segunda-feira, 28 de outubro de 2013

A síndrome do fim da linha

Eu não sei vocês, mas ultimamente eu tenho andado ansiosa com o fim. A última página do livro que estou lendo. O ponto final pra história que acabo de inventar. Quantas folhas em branco faltam para chegar ao fim desse caderno... O ano está acabando! E eu não fiz muita coisa com ele.
Possível que seja porque andei tanto tempo preocupada em finalizar coisas que nem sequer comecei e julgar projetos que não participei que deixei de aproveitar os meios em que estou. Ou que deveria estar, caso a angustia não consumisse grande parte do meu tempo.
Não quero ficar aqui me arrastando em lamúrias, porque além de ser chato, se alguém que sofre do mesmo mau que eu por um acaso ler esse texto, não vai ter paciência de terminar. Talvez eu tenha mais a dizer. Não só aqui como nos outros textos; que com poucas frases contam de maneira apressada uma ideia que eu tive um dia, mas que hoje, eu só me preocupo com o parágrafo final.
Onde tento transmitir alguma mensagem interessante e não sei bem se consigo. E nesse caso é sobre meios e seus prazeres, ou sobre meios-prazeres que ficam esquecidos no tempo ou na falta de. Não gosto de lições de moral. Muito menos quando tento aplicá-las a mim mesma, numa tentativa falha de contabilizar tudo o que eu deixei passar e ir em busca do tempo perdido, mesmo sem nenhuma madeleine por perto. Mas, enquanto não encontro um meio-termo, meio que termino o texto. Cedo demais. 

quinta-feira, 11 de abril de 2013

Lolita, Vladimir Nabokov






Sempre ouvi falar sobre Lolita. Um filme, umas tantas músicas, um estilo no universo das garotas de Harajuku. Será que tudo isso tinha o mesmo ponto de origem?!, eu me perguntava.  Decidi ler o livro para sanar minhas dúvidas.
Há quem diga que é doentio. Eu concordo, mas acho que escrever sobre algo tão assombroso com sensibilidade e humor é o que torna esse livro especial.
O livro começa logo com um primeiro capítulo triunfal, parte preferida de muita gente que leu, (não minha) onde eu encontrei uma das frases iniciais mais lidas da minha vida “Lolita, light of my life, fire of my loins” (que só perde para o início de Orgulho e Preconceito). Em seguida, o narrador fala de suas origens e sua infância para assim localizar a questão principal do livro, a pedofilia. Sem mais spoilers, esse é o assunto que gera toda a polêmica em volta da história, que foi recusada por diversas editoras antes de por fim ser publicada em 1955.
Aconselho um pouco de sangue frio pra ler “Lolita” e, por incrível que pareça, bom humor. E neste caso, o bom humor é uma forma deturpada de mau humor. A mesma forma que o narrador usa para contar certas passagens do livro, como no trecho a seguir:

“Teria criado sérias dificuldades para minha Lô, caso eu realmente quisesse colocá-la em dificuldade. Mas quem desejaria perturbar uma menina tão radiosa? Por acaso já mencionei que seu braço nu trazia a marca em oito da vacina? Que a amava perdidamente? Que ela só tinha catorze anos?”   

segunda-feira, 11 de março de 2013

Cotidianices, com Beea Moreira




"Duas amigas, uma rabiscadora e uma escritora, decidiram usar seu tempo livre - não tão livre assim - para colocar no papel observações, comentários e pensamentos aleatórios, e assim nasceu o COTIDIANICES!" (Beea Moreira)


Tudo começou com a descoberta do 

trabalho da argentina Martina Flor no Casi Hstorias, depois nós mesmas fomos criando nossas histórias, ou melhor, nossos fragmentos de histórias. Como nossa lista de interesses têm uma incomum sintonia em comum, as frases vão brotando de filmes, livros, músicas e algumas vivências que a gente encontra por aí compartilhamos um amor mútuo. Depois a Beea ilustra e colore nossas frasezinhas desse jeito singular que só ela sabe fazer e fico morrendo de amores, querendo até mesmo reativar esse blog para postar aqui os nossos progressos. 

E fora da blogosfera vamos postar semanalmente nossos progressos em nossas páginas: Beeamoreira - Ilustração e Design e Randonly, por Aimee Oliveira.


Uma frase lendária que sempre vinha à minha cabeça
Uma das minha preferidas, obrigada Mallu Magalhães
Problemas de multifoco, quem nunca? 
As letras vão crescendo e a maluquice também 
Outra forte candidata a ser minha preferida, tristeza meiga. 
Martha Medeiros inspirando gerações 


E por hoje é só! ♥

sábado, 1 de dezembro de 2012

Frases e Efeitos




Era um relacionamento conturbado. Com brigas sem palavras e rompimento interrompidos pela necessidade de, mesmo que não valesse à pena, ficar um com o outro, ainda que a casa caia.
E está caindo, desmoronando e, de repente, são só escombros.
Ela fala demais. Ele ouve de menos e não diz nada.
- Um grande nada, é isso que nós temos – ela concluiu certa noite durante o jornal que passava notícias de tragédias na TV. Aquilo também era trágico. Duas pessoas, muito tempo, nenhum ganho.
-Nenhum? – ele perguntou dissimulado como se não fizesse ideia do que estava acontecendo.
- Nada.
Pausa. Um grande silêncio se segue.
Para ela, uma pessoa de natureza nervosa, a situação é muito incomoda. Em sua cabeça passava pelo menos cinco desfechos diferentes para aquela discussão. Todos eles catastróficos. Para ele, um cara de caráter indiferente, era uma pena que a programação tinha sido interrompida pelo comercial, mas não seria má ideia comprar esse novo aparelho de barbear do anúncio.
Ela o amava demais e era correspondida, ele também gostava dela. Namoravam há dois anos, tinham um cachorro e um apartamento juntos. A coisa deveria estar ficando séria. O apartamento só tinha 50m², mas parecia ter meia volta ao mundo quando ele se fechava em seu mundinho.
- Não faça tempestade num copo d’água...
- É um dilúvio. Em alto mar!
Não eram discussões de grande magnitude. Discutir cansa e ele sempre vivia cansado demais. Enquanto ela filosofava sobre o relacionamento que eles quase não tinham, ele sempre que colocava uma ligeira conclusão dizia:
- Viva o momento! Carpe Diem! – seguido de um beijo apaixonado, cheio de envolvimento que deixavam todas as questões de lado. Deixavam as roupas por todos os lados.
E a razão dela do lado de fora.
Em alguma hora da madrugada quando todos deveriam estar dormindo a verdade se esgueirava pela cama e deitava ao lado deles. Entre eles. Como uma criança com pesadelos que procura seus pais em busca de proteção, só que essa criança procurava outra coisa.
Abrir os olhos dela.
Então ela acordou num susto. Olhou em volta e percebeu que ele não estava ao eu lado. De novo. A maioria das vezes ele não estava. O que será que ele estava fazendo? O que será que ela estava fazendo?
Ele estava no computador, ela estava aflita. Por isso, foi esquentar um pouco de leite.
- Benício, minha avó já dizia: saco vazio não pára em pé.
“E mente nervosa não pára quieta”, Lúcia completou na sua cabeça na tentativa de reformular o ditado. Lúcia sempre fora muito lúcida, mas em matéria de ditados e rimas nunca tinha sido muito boa.  
Ela dividiu o conteúdo da leiteira em duas canecas uma com açúcar e outra com uma pitadinha de canela. Era assim que ele gostava do leite, mas nem ao menos sabia.
- Não quero ser puxa-saco nem nada, mas... Feito com amor até o leite é diferente – ele dizia extasiado, quando aquele sonho ainda era dourado. 
Desde então Benício não esquentou seu próprio leite, nem nunca soube que o amor na verdade era canela. E que a canela era só mais uma das provas de amor que ela dava todo o dia e morriam sem serem percebidas.
A caneca dele estava em cima da mesa, ela estava no sofá. De lá ela podia ver como ele bebia e não desgrudava os olhos da tela, sem colocar os olhos nela. Estava muito quente, ela sentiu ao beber seu primeiro gole de leite. Seria a única coisa quente naquela noite, ela notou ao olhar a sua volta. Era início de inverno, suas meias estavam na lavanderia, seu edredom em cima do armário e sabia que não podia contar com um abraço.  
Seus olhos abriram mais um pouco, o sono fora completamente embora. O sonho tinha acabado. De fato, acabou há algum tempo enquanto ela se debatia e virava para o outro lado, fechando os olhos novamente, na esperança de voltar a dormir e continuar de onde parou. Isso geralmente funciona com pesadelos, não com sonhos. E ela começou a aceitar.
- Nós não temos mais nada – ela declarou enérgica, se levantando do sofá.
Sua caneca caiu no chão, se partiu em mil pedaços. Não seria a única da noite.
-Assunto repetido.
- Não é uma declaração. É um ultimato.
No fim das contas, ela o amava demais, ele apenas gostava dela. Nunca foi correspondida. Ele pegou suas roupas, o cachorro e muito da dignidade de Lucia e foi embora sem fazer barulho.
Horas depois, catando os cacos da xícara que ainda estava na sala, ela se cortou, mas não doeu, e foi aí que ela percebeu que não adiantava chorar pelo leite derramado.


terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Resenha: A Estrela Mais Brilhante do Céu

Bom, hoje eu estou aqui para falar de um quase-lançamento. Na verdade, o livro saiu em dezembro, portanto algumas já devem ter lido, mas pra quem não leu aí vai uma boa dica. Isto é, se você gosta de histórias divertidas/emocionantes/românticas/surpreendentes.
Indo direto ao ponto, o livro é “A Estrela Mais Brilhante do Céu” da irlandesa Marian Keyes (autora de Melancia, Férias! e Sushi). E fala de uma casa georgiana, típica Irlandesa, que foi transformada em quatro flats, um visitante não-identificado tem acesso aos quatro apartamentos, e principalmente, às pessoas que passam por eles. Aos poucos ele vai conhecendo-as, sabendo suas histórias e interferindo em suas vidas.
“Uma história de amor, perda, risada e segredos” a Marie Claire Inglesa falou sobre o livro. E eu assino embaixo! A Marian Keyes escreve de um jeito apaixonante, dá vontade de rir até mesmo nas horas mais impróprias. É uma leitura para quem gosta de ir do choro o riso, simultaneamente se possível!


Este foi o último livro lançado pela autora (tanto aqui como nos outros países), e é considerado, quase que universalmente, o melhor até então. E enquanto espero o lançamento do próximo, fico sugerindo ao maior número de pessoas que consigo: Leiam esse!

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Dúvida

Nem tudo é tão ruim quanto parece. Ao menos temos nossa história. Não digo Balzac, nem Machado, mas um folhetim. Vendido nas bancas, a preço de banana. Ainda assim você me comprou. É desconexo, vulgar, contínuo... Acredito em envolvimento sem romance e romance em envolvimento. Nada disso fala sobre a gente. O que fala então?

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Seu nome

Achei que tinha te visto na lojinha da esquina, mas foi só uma ilusão de ótica. Cheguei mais perto para olhar melhor, mas era só alguém parecido. Me aproximei. Fiz questão de começar uma conversa, que chegou ao fim assim que perguntei se podia chamá-la pelo seu nome.

As pessoas costumam mal interpretar esse meu costume.

Outro dia eu estava andando pelo Leblon e vi uma loirinha sentada em uma cadeira de vime. Fui até a loja para ver mais de perto. E lá evoluímos. Elogiei sua nova cadeira, ela mandou o rapaz entregar em casa para aceitar o meu convite de ir a um barzinho.

Foi na volta para casa que aconteceu o beijo. Estacionado na frente do seu prédio me inclinei para alcançar a boca. Tudo que eu senti foi seu perfume que ainda está no cinto de segurança.

E não, ela não gostou quando eu a chamei pelo seu nome.


Maldita festa aquela dos tempos de faculdade. Meus tempos de faculdade, você ainda deveria estar no pré-vestibular. 

Sua irmã nos apresentou fazendo qualquer comentário sobre a nossa amizade e depois pontuou algo sobre vocês duas.

- Dizem que somos iguaizinhas, a versão mais nova de mim.
- Parecidas – tinha alguma coisa que a diferenciava completamente.

O tipo de festa com muita bebida e música barulhenta. Minutos depois, tocou Nirvana e finalmente entendi a definição de “Smells like teen spirit”. Você.

Essa era a grande diferença.  Você dançava e seus cabelos mexiam junto com você. Suas opiniões brincavam com os conceitos da sociedade. Seus joguinhos arrasavam com meu coração.

Segundo encontro. Por acaso descobri aonde você iria estar àquela noite. Fingi que foi por acaso que te encontrei lá. Se você acreditou em mim, nunca vou saber, o que sei é que você abriu um sorriso e disse:

- Bom te ver.

Bom ver você também. Se o lugar tivesse alguns pontos de luz seria melhor ainda. A atmosfera vermelha não me deixava ver o azul do seu olho. A multidão imprensada ajudava a nossa proximidade. O calor era tanto que umedecia a parede. E foi lá que você escreveu:

“Fala meu nome.”

Falei no seu ouvido, sentindo você arrepiar contra mim. Você sorriu, senti na sua voz. Enquanto me pedia para repetir e eu fazia aquilo já sem sentir.

Any, Any, Any. Eu poderia dizer isso para sempre. Eu digo isso sempre.

“Agora me beija”

Apareceu na parede diante dos meus olhos, apertei você entre os meus braços. E acatei o seu pedido. O segundo de uma grande sucessão. Porque partir daí não teve mais volta. Eu te peguei para mim.

Any, Any, Any. Você achava que sabia tudo, o problema era que eu acreditava em você.

Dias, semanas, meses se passaram. Há quem diga que eu e você fomos um. Mas entre nós há uma grande diferença. Em você, grandes indiferenças. Que velavam ciúme, aborrecimento e ardor. Comigo o problema era amor.

“Amor demais pode asfixiar” você me dizia empurrando para o lado.
Depois tudo era brincadeira. A culpa era do dia estressante, do calor que está fazendo, da sua unha que quebrou.

“Vem cá meu amor, vou te fazer uma massagem”
 E dentro do poucos minutos tudo era só amor. Nossa montanha russa estava em plena atividade. E nós, querida, estávamos no topo.

De repente uma curva descendente nos atingiu e ao invés de segurar na minha mão, você sumiu.

“Tempo ao tempo”
Era basicamente os conselhos que eu recebia. Mas tempo, quanto tempo eu tenho que esperar até tê-la de volta?

O tempo não me respondeu. Nem ninguém. E sendo assim, resolvi não ficar parado. Fui aos lugares favoritos, ao seu antigo trabalho, às suas peças de teatro.

Any, Any, Any. Ah, eu te procurei...

Perguntei para todo o mundo, tentei a sua família, eles tinham viajado. Telefonei para sua irmã, só o que ela me disse é que tinha conseguido um emprego novo, por enquanto estava morando no Colorado. Sei que ela é leal e nunca te trairia. Mas nós temos uma longa amizade, simplesmente pensei que se ela soubesse de alguma coisa me contaria.

Me enganei.

Engano. Atividade comum para mim. Você foi um deles. Você foi muitos deles. Sua carinha de anjo, sua voz rouca. Com a cabeça cheia de ideias, mas com a alma sempre oca. Não posso te culpar, ainda falta tempo.
 Mas quando por fim você crescer, espero que venha para mim correndo.

“Procure outras” um amigo me sugeriu.

E eu procurei. E encontrei. Procurei outras, procurei em outras. Você.

Any, Any, Any. Volte logo de uma vez, ou então, mais tarde, não diga que eu não avisei.

 Encontrei numa ruiva os seus olhos, em uma morena suas pernas, em muitas loiras o seu cabelo, em uma criança o seu espírito.

Mas Any, Any, Any. Você não sai da minha cabeça, seu nome está na minha boca. Estou preocupado de esquecer seu rosto, de pensar que você foi um produto da minha imaginação e não reconhecer seu gosto.


Pensei ter de visto no calçadão. O jeito de andar era o mesmo. Te chamei. Você me olhou estranhada, disse que não se chamava assim, o seu nome era Clara.

Clara, claro! Falei que não ia mais me enganar e de fato não me enganei, durante uma semana de encontros diários na beira da praia ela permaneceu Clara.

No escuro do meu quarto sobre a minha cama ela virou você novamente. Any, obviamente. Pedi com todo o jeitinho, mas ela argumentou que não era mulher daquele feitio.

Any, Any, Any. Onde é que você está? Será que o resto da minha vida eu vou passar a te chamar?


Tenho certeza que te vi na Koni Store, minhas esperanças se reacenderam. Você estava muito serena e madura. Como se estivesse pronta para mim. Mexendo no telefone e sem companhia. Essa era a minha chance.

Essa foi a minha chance.

Levou alguns minutos para eu perceber que era sua irmã. Depois de anos constatei que era verdade o que ela me disse no dia em que eu te conheci. Ela era a cópia mais velha de você. A cópia fiel. A cópia boa.

Perguntei de você e ela me foi bem direta, sincera. Perguntou de mim e eu abri meu coração.

Isso não era boa ideia, mais cedo ou mais tarde a pergunta de sempre ia aparecer. Pelo menos aconteceu mais tarde. E ela falou sorrindo ao me responder:

- Sei que eu realmente não deveria, mas sim, você pode me chamar do que você quiser.


Any, Any, Any. Essa é a ultima vez que vou te chamar. Só para assim te avisar que agora tem outra em seu lugar.
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Texto feito apartir da múica Cornerstone, Actic Monkeys, qualquer semelhança não é mera coincidência