Achei que tinha te visto na lojinha da esquina, mas foi só uma ilusão de ótica. Cheguei mais perto para olhar melhor, mas era só alguém parecido. Me aproximei. Fiz questão de começar uma conversa, que chegou ao fim assim que perguntei se podia chamá-la pelo seu nome.
As pessoas costumam mal interpretar esse meu costume.
Outro dia eu estava andando pelo Leblon e vi uma loirinha sentada em uma cadeira de vime. Fui até a loja para ver mais de perto. E lá evoluímos. Elogiei sua nova cadeira, ela mandou o rapaz entregar em casa para aceitar o meu convite de ir a um barzinho.
Foi na volta para casa que aconteceu o beijo. Estacionado na frente do seu prédio me inclinei para alcançar a boca. Tudo que eu senti foi seu perfume que ainda está no cinto de segurança.
E não, ela não gostou quando eu a chamei pelo seu nome.
Maldita festa aquela dos tempos de faculdade. Meus tempos de faculdade, você ainda deveria estar no pré-vestibular.
Sua irmã nos apresentou fazendo qualquer comentário sobre a nossa amizade e depois pontuou algo sobre vocês duas.
- Dizem que somos iguaizinhas, a versão mais nova de mim.
- Parecidas – tinha alguma coisa que a diferenciava completamente.
O tipo de festa com muita bebida e música barulhenta. Minutos depois, tocou Nirvana e finalmente entendi a definição de “Smells like teen spirit”. Você.
Essa era a grande diferença. Você dançava e seus cabelos mexiam junto com você. Suas opiniões brincavam com os conceitos da sociedade. Seus joguinhos arrasavam com meu coração.
Segundo encontro. Por acaso descobri aonde você iria estar àquela noite. Fingi que foi por acaso que te encontrei lá. Se você acreditou em mim, nunca vou saber, o que sei é que você abriu um sorriso e disse:
- Bom te ver.
Bom ver você também. Se o lugar tivesse alguns pontos de luz seria melhor ainda. A atmosfera vermelha não me deixava ver o azul do seu olho. A multidão imprensada ajudava a nossa proximidade. O calor era tanto que umedecia a parede. E foi lá que você escreveu:
“Fala meu nome.”
Falei no seu ouvido, sentindo você arrepiar contra mim. Você sorriu, senti na sua voz. Enquanto me pedia para repetir e eu fazia aquilo já sem sentir.
Any, Any, Any. Eu poderia dizer isso para sempre. Eu digo isso sempre.
“Agora me beija”
Apareceu na parede diante dos meus olhos, apertei você entre os meus braços. E acatei o seu pedido. O segundo de uma grande sucessão. Porque partir daí não teve mais volta. Eu te peguei para mim.
Any, Any, Any. Você achava que sabia tudo, o problema era que eu acreditava em você.
Dias, semanas, meses se passaram. Há quem diga que eu e você fomos um. Mas entre nós há uma grande diferença. Em você, grandes indiferenças. Que velavam ciúme, aborrecimento e ardor. Comigo o problema era amor.
“Amor demais pode asfixiar” você me dizia empurrando para o lado.
Depois tudo era brincadeira. A culpa era do dia estressante, do calor que está fazendo, da sua unha que quebrou.
“Vem cá meu amor, vou te fazer uma massagem”
E dentro do poucos minutos tudo era só amor. Nossa montanha russa estava em plena atividade. E nós, querida, estávamos no topo.
De repente uma curva descendente nos atingiu e ao invés de segurar na minha mão, você sumiu.
“Tempo ao tempo”
Era basicamente os conselhos que eu recebia. Mas tempo, quanto tempo eu tenho que esperar até tê-la de volta?
O tempo não me respondeu. Nem ninguém. E sendo assim, resolvi não ficar parado. Fui aos lugares favoritos, ao seu antigo trabalho, às suas peças de teatro.
Any, Any, Any. Ah, eu te procurei...
Perguntei para todo o mundo, tentei a sua família, eles tinham viajado. Telefonei para sua irmã, só o que ela me disse é que tinha conseguido um emprego novo, por enquanto estava morando no Colorado. Sei que ela é leal e nunca te trairia. Mas nós temos uma longa amizade, simplesmente pensei que se ela soubesse de alguma coisa me contaria.
Me enganei.
Engano. Atividade comum para mim. Você foi um deles. Você foi muitos deles. Sua carinha de anjo, sua voz rouca. Com a cabeça cheia de ideias, mas com a alma sempre oca. Não posso te culpar, ainda falta tempo.
Mas quando por fim você crescer, espero que venha para mim correndo.
“Procure outras” um amigo me sugeriu.
E eu procurei. E encontrei. Procurei outras, procurei em outras. Você.
Any, Any, Any. Volte logo de uma vez, ou então, mais tarde, não diga que eu não avisei.
Encontrei numa ruiva os seus olhos, em uma morena suas pernas, em muitas loiras o seu cabelo, em uma criança o seu espírito.
Mas Any, Any, Any. Você não sai da minha cabeça, seu nome está na minha boca. Estou preocupado de esquecer seu rosto, de pensar que você foi um produto da minha imaginação e não reconhecer seu gosto.
Pensei ter de visto no calçadão. O jeito de andar era o mesmo. Te chamei. Você me olhou estranhada, disse que não se chamava assim, o seu nome era Clara.
Clara, claro! Falei que não ia mais me enganar e de fato não me enganei, durante uma semana de encontros diários na beira da praia ela permaneceu Clara.
No escuro do meu quarto sobre a minha cama ela virou você novamente. Any, obviamente. Pedi com todo o jeitinho, mas ela argumentou que não era mulher daquele feitio.
Any, Any, Any. Onde é que você está? Será que o resto da minha vida eu vou passar a te chamar?
Tenho certeza que te vi na Koni Store, minhas esperanças se reacenderam. Você estava muito serena e madura. Como se estivesse pronta para mim. Mexendo no telefone e sem companhia. Essa era a minha chance.
Essa foi a minha chance.
Levou alguns minutos para eu perceber que era sua irmã. Depois de anos constatei que era verdade o que ela me disse no dia em que eu te conheci. Ela era a cópia mais velha de você. A cópia fiel. A cópia boa.
Perguntei de você e ela me foi bem direta, sincera. Perguntou de mim e eu abri meu coração.
Isso não era boa ideia, mais cedo ou mais tarde a pergunta de sempre ia aparecer. Pelo menos aconteceu mais tarde. E ela falou sorrindo ao me responder:
- Sei que eu realmente não deveria, mas sim, você pode me chamar do que você quiser.
Any, Any, Any. Essa é a ultima vez que vou te chamar. Só para assim te avisar que agora tem outra em seu lugar.
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Texto feito apartir da múica Cornerstone, Actic Monkeys, qualquer semelhança não é mera coincidência